Se estudantes com indicativos de dislexia – até 10 por cento de todos os seus alunos – têm dificuldades de aprendizagem que você não entende ou não consegue dar a devida atenção, esses alunos têm o risco de entrar em um ciclo de fracasso.
Enquanto são deixados para trás por seus colegas de classe, inevitavelmente enfrentam dificuldades nos exames, na continuação dos estudos e na procura por um trabalho. Pessoas com níveis severos de dislexia, que não são ensinadas adequadamente, enfrentarão dificuldades a vida inteira em todas as áreas que demandam habilidades de leitura e de escrita, tais como: ler contas a pagar ou bulas de medicamentos, completar formulários nos correios ou bancos e escrever cartas de todo tipo. Obviamente, a dislexia irá prejudicar gravemente suas vidas de diferentes maneiras.
Se seus alunos estão fracassando, você também pode estar fracassando como professor.
Por isso é tão importante que você esteja apto a identificar a dislexia e a adaptar seus métodos de ensino aos disléxicos em sua sala de aula.
Seu papel como professor é vital. Você pode prevenir os efeitos psicológicos devastadores do fracasso contínuo, que frequentemente marcam os adultos que tiveram de lutar a vida inteira sozinhos contra a dislexia.
Muitos estudos científicos demonstram que quanto mais cedo as crianças com dislexia são apropriadamente auxiliadas, melhor será seu desempenho final na escola e no trabalho.
Portanto, é de extrema importância tentar detectar e lidar com a dislexia e o mais rápido possível encaminhar a criança ao especialista.
Em resumo, a responsabilidade de detectar a dislexia é do professor. “É o professor de sala de aula que está na primeira linha de defesa contra algumas das consequências da dislexia, não somente pelo desempenho acadêmico ou intelectual da criança na escola, mas também por sua auto-estima e pelas relações sociais, que estabelece ao longo de sua vida.”(BBC – Language Shock – Dyslexia across cultures (Choque linguístico – Dislexia através das culturas)).
©Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)
©Dra. Ângela Maria Viera Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)
2.1 Consultas médicas
Se você perceber que uma criança está tendo dificuldades com audição, visão e coordenação física, você deve imediatamente pedir a seus pais ou responsáveis que façam as consultas necessárias.
É fundamental que se estabeleça que deficiências sensoriais como otites de repetição (histórico de infecções do ouvido, como otite média), baixa visão ou qualquer outra condição psicológica não são a principal causa das dificuldades de leitura e escrita da criança.
(Para mais informações sobre perdas auditivas e sua relação com dislexia em alguns casos, veja o artigo online do livro da Dra. Lindsay Peer chamado “Glue ear” (orelha com secreção); para mais informações sobre visão, consultar o panfleto de Keith Holland sobre visão e aprendizado).
2.2 Dislexia – um conjunto de dificuldades difícieis de serem identificadas
O motivo pelo qual não é fácil identificar a dislexia é que, como mencionado na Seção 1, “essa condição não é uma categoria única, mas um distúrbio com um largo um espectro de déficits” (Professora Snowling). Portanto, se manifestará de diferentes formas e em graus diferentes em pessoas diferentes. Além disso, sua manifestação será diferente em diferentes línguas.
Como o consultor internacional do Reino Unido, Dr. Ian Smythe, diz:
“Dislexia pode ser causada por uma combinação de déficits no processamento fonológico, visual e auditivo, assim como dificuldades na recuperação de palavras e na velocidade de processamento… As manifestações da dislexia irão depender não somente das diferenças cognitivas individuais, mas também da língua usada.”
Dr. Steve Chinn, um especialista em discalculia e em dislexia e ex-diretor de uma escola especializada para crianças com dislexia, em sua entrevista à BBC (Choque linguístico – Dislexia através das culturas), menciona um conjunto de sinais de dislexia a serem atentados:
“Dislexia significa uma dificuldade com linguagem – palavras e letras – tanto que as dificuldades mais óbvias e persistentes que, como você verá, serão com leitura e a escrita, além de dificuldades muito intratáveis com a soletração, também com memória, especialmente em relação a sequências como as de dias da semana e meses do ano. A organização pessoal será precária em quase todas as circunstâncias.”
Algumas dificuldades com leitura e com a escrita não se devem à dislexia, podem ter origem puramente desenvolvimental. Porém, para identificar a dislexia você, como um professor, deve entender que as dificuldades de leitura, de escrita e de soletração se tornam exacerbadas devido a deficiências de memória de curto prazo e de habilidades organizacionais.
Em todos os casos, um dos maiores indicadores de dislexia é que, quando a criança começa a ler e escrever , suas habilidades verbais parecem superiores à suas habilidades de leitura e de escrita que frequentemente, serão de um a dois anos e meio aquém dos colegas sem dislexia.
©Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)
©Dra. Ângela Maria Vieira Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)