3.4 Compreensão
Como as crianças com dislexia têm dificuldades para identificar palavras rápida e acuradamente, também é difícil para elas extrair significado dos textos. Como consequência, existe o risco de que a criança com dislexia lerá menos, embora seus colegas leiam mais e mais.
Isto é comumente referido como o ‘Efeito Matthew’, inicialmente descrito por Keith Stanovitch, o que significa que ‘aqueles que têm mais conseguirão mais e aqueles que têm menos conseguirão ainda menos’.
Como a leitura é o fator principal para aumentar o vocabulário, as crianças devem ser encorajadas a apreciar livros por todos os meios possíveis, por exemplo:
- introduzindo livros que são bem ilustrados e que lhes permitirão captar o sentido quando elas nem sempre puderem ler as palavras
- pedindo lhes para escolher dois livros, um de seu próprio nível e o outro para ser lido por um dos pais ou irmãos, para encorajar a discussão oral
- dando-lhes livros que são um pouco menos difíceis do que para seu nível a fim de assegurar-se de que podem usar suas habilidades de leitura
- dando-lhes livros em gravações
- alternando cada parágrafo da leitura você mesmo
- lendo primeiro com eles no seu próprio ritmo e, depois, mais devagar, abaixando sua voz à medida que sua confiança aumenta e eles possam continuar por si próprios
- lendo-lhes livros que eles conheçam de cor e amam, permitindo-lhes seguir as palavras com o dedo e encorajando-os a participar da leitura
- dizendo-lhes que ‘ser capaz de ler histórias é ser capaz de navegar numa nave espacial entre as estrelas e visitar planetas maravilhosos cheios de todos os tipos de aventuras’ (Rick Lavoie, consultor international, EUA)
Comentários gerais na apresentação:
Se você disponibilizar textos que você mesmo escreveu, tome cuidado para tornar o layout tão claro e organizado quanto possível. Use uma fonte que possa ser lida com facilidade (Comic sans MS, Lucida Casual or Arial, evitando Times New Roman) num tamanho entre 12 e 14, espaço 2, e marcando com clareza as diferentes partes ou parágrafos.
Note que para algumas crianças com dislexia o contraste do preto sobre o branco pode impedir sua leitura. Nesse caso, use uma folha de plástico transparente colorido como capa que elas podem colocar sobre o texto para diminuir o contraste. Experimente cores diferentes e peça-lhes que escolham a que combine melhor.
Isto aplica igualmente para as folhas de respostas.
As técnicas específicas que você usa para ajudar a compreensão poderão variar, dependendo da idade dos alunos, de seus interesses específicos e da natureza dos textos selecionados para emparelhar com seus interesses. Portanto, as sugestões que seguem são bastante gerais.
3.4.1 Dando suficiente suporte informacional
É importante começar os textos que as crianças vão ler por uma discussão em classe sobre o respectivo tópico.
Leslie e Caldbem demonstraram que a compreensão é melhorada pela capacidade em relacionar o texto com o conhecimento prévio da criança sobre o tópico. Para algumas crianças com dislexia, esta relação tem que ser explícita. Por exemplo, você pode dar o título da passagem e desencadear uma sessão de ‘brain-storming’ sobre o assunto e constatar o que cada criança sabe a respeito.
Também é importante levar as crianças a antecipar o que poderá vir a seguir. Isto as encoraja a interagir com o texto, a fazer previsões, a checar se elas foram preenchidas e então revisá-las se necessário.
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3.4.2 Promovendo a interação entre a criança e o texto
Mais do que apenas a leitura passiva, as crianças deverão ser encorajadas a interagir com o texto.
Nos anos 1980, Lunzer e Gardner desenvolveram uma série de atividades para incrementar a compreensão. Coletivamente, elas são conhecidas como as DARTs (Directed Activities Related to Texts), no português, ADRTs (Atividades Dirigidas Relacionadas com os Textos).
Elas estão baseadas nos Princípios da reconstrução ou análise do texto. Exemplos de reconstrução são:
- completar: adicionar palavras que faltam
- sequencializar: colocar os parágrafos da passagem em ordem correta
- agrupar: classificar as partes dos textos em categorias
- preencher tabelas: por exemplo, marcos para títulos ou questões da passagem
- completar uma ilustração ou legendá-la
- predição: sugerir o que vem a seguir.
Aqui, alguns exemplos de análise:
- marcar: achar e sublinhar as partes que contêm informação específica
- segmentar e subtitular: dividir a passagem e achar o subtítulo para cada parte
- fazer uma tabela: decidir sobre o número de linhas e de colunas adequado para o texo, preenchendo, então, as células
- fazer diagramas: esboçar um diagrama que explique o texto
- questionário: responder as questões do professor ou inventar questões
- resumo: se o texto for adequado, você pode pedir às crianças para fazer uma pausa e, a seguir, fazer perguntas depois de cada parte, por exemplo: ‘O que eu aprendi?’ e ‘Qual pergunta esta parte responde?’
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3.4.3 Provendo marcos estruturados para analisar textos
Algumas crianças se beneficiarão de marcos estruturados que lhes permitirão encontrar os pontos salientes do texto. Um exemplo de marco estruturado é uma série de questões começando com ‘Quem, O que, Onde, Por que, Como, etc.?’
Isto as ajudará a encontrar um formato geral para o texto e, portanto, as ajudará a entendê-lo.
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3.4.4 Usando técnicas visuais
Flecker e Cogan sugerem técnicas visuais a fim de estimular associações, nas quais existem quatro estágios:
- leitura de todo texto para captar a ideia geral
- releitura do texto e escolha dos eventos ou imagens para desenhar
- desenhar para ilustrar a sequência escolhida
- decidir qual é o evento principal para ilustrar
A Visualização ajuda a compreensão do material bem como a lembrança, pelo menos se o que deve ser lembrado estiver refletido nas ilustrações desenhadas pelos alunos.
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3.4.5 Usando mapas mentais
O modo linear como a maioria de nós tem geralmente aprendido a estruturar e a lembrar a informação com títulos e subtítulos não é sempre adequado para crianças com dislexia, as quais não pensam linearmente.
Com isto em mente, uma outra técnica multissensorial para a compreensão são os mapas mentais. Existem layouts esquemáticos com palavras-chave e setas entre elas com outras pistas, como a cor.
Esta técnica foi desenvolvida por Tony Buzan e tem sido cada vez mais reconhecida em numerosas áreas, inclusive na educação, como um instrumento útil para pensar e aprender. Para crianças com dislexia, a técnica é ainda mais apropriada em virtude de seus aspetos multissensoriais que acionam vários processos: visualização, associação de ideias, uso de cores e ilustrações, e palavras-chave.
Para experimentar gratuitamente, simplesmente busque no website do Google em ‘Mind map’ ou ‘Tony Buzan’. Você encontrará alguns exemplos de mapas mentais com vários tópicos a respeito (a serem baixados).
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©Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)
©Dra. Ângela Maria Viera Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)