– Para ensinar ortografia

3.3  Para ensinar ortografia

.3.3.1  Ensino da escrita cursiva

 

Para crianças com dislexia, é importante encorajar a escrita cursiva em todos os contextos. Toda vez que a caneta para ou é retirada do papel, existe a oportunidade de errar.

A maior vantagem da escrita cursiva é que o lápis ou caneta são suspensos com menor frequência, o que facilita o fluxo da escrita.

Com escrita cursiva, é também muito mais fácil ver onde as palavras começam e terminam.

Existem muitas escritas cursivas possíveis disponíveis, mas é importante que você ensine usando a mesma fonte, especialmente a crianças com dislexia. A escrita cursiva americana D’Nelian parece particularmente adequada, porque as letras como <b>, <d>, < p>, e <q>, que são facilmente reversíveis,  são representadas de forma bastante diferente neste escrita.

De qualquer modo, você deve usar a mesma fonte quando ensinar qualquer escrita cursiva.

 

 

 

Se você não estiver familiarizado com a escrita cursiva e quiser ver todas as letras do alfabeto escritas em cursiva

.Prepare papel pautado para as crianças com dislexia e permita-lhes ‘escrever grande’ entre quatro linhas: duas linhas no meio para letras pequenas como <a>, uma linha superior para as letras com traços verticais para cima, como em <b>, e a linha inferior para traços para baixo, como em <g>.

Experimente encorajar as crianças a segurar a caneta apropriadamente e a sentar confortavelmente quando escrevem.

[inserir arquivo: Teaching-today]

Se você quiser saber mais sobre postura, caneta aderente e posição do papel (retirado do   Teaching Today, staff development, BBC Education)

 

3.3.2  Ensino de palavras regulares

 

Para ensinar a ortografia das palavras regulares, a rotina multissensorial SOS (Ortografia Oral Simultânea) é efetiva. Foi desenvolvida por Gillingham e Stillman.

Existem várias variantes da SOS, mas elas contêm pelo menos os seguintes passos:

  • o professor diz a palavra
  • os alunos repetem a palavra e apontam para a cartela correta entre quarto disponibilizadas
  • os alunos  escrevem as letras em escrita cursiva, ao mesmo tempo emitindo o som correspondente a cada grafema
  • os alunos checam se ortografaram a palavra corretamente

Este técnica ajuda a estabelecer associações entre as modalidades auditiva, oral-cinestésica (através da repetição), e manual-cinestésica (emissão dos sons correspondentes enquanto escrevem as letras).

Para as palavras irregulares nas quais um ‘som’ pode ser escrito de formas diferentes, você pode ajudar fornecendo as palavras em ‘famílias’, do mesmo jeito como você fez para a leitura. Deixe os alunos usarem cores diferentes para mostrar as correspondências similares, por exemplo, para as várias ortografias da vogal nasal [ã]:

anã, maçã, órfã, …

partam, moram, levam, …

estão, vão, lerão, …

pinta , linda, cinco,…

samba, limpo, tampa,…

então, para as ortografias menos frequentes:

xi, fixo, tóxico,…

mínimo, árvore, ônibus

ônus,  pênis, lápis

então, para as exceções:

(eles) têm, vêm, provêm, contêm

 

3.3.3  Ensino de palavras irregulares

 

Existem vários  métodos multissensoriais para o ensino de palavras irregulares quando   a estratégia da SOS não puder ser usada par dar conta das correspondências irregulares ‘letra’-som.  Métodos diferentes são usados para crianças diferentes . Aqui estão alguns exemplos:

Método Fernald’s (1943) para o ensino das palavras irregulares

  • os alunos recebem fichas grandes nas quais a palavra é escrita em cursiva (possivelmente do ‘pacote  das palavras irregulares’ para leitura)
  • a palavra é dividida em sílabas com o lápis
  • os alunos seguem as letras com o dedo da mão que escreveu, dizendo cada sílaba à medida que as traçam
  • eles repetem este ação várias  vezes até que sintam que podem ortografar a palavra
  • a ficha é escondida e os alunos escrevem a palavra de memória à medida que a dizem
  • se a ortografia estiver correta, eles repetem a ação traçando a palavra com o dedo
  • a palavra deve, então, ser praticada em contexto

Este procedimento treina as modalidades auditiva e manual-cinestésica.

Um outro exemplo, que tem muitas variantes, é conhecido como LCWC: Look, Cover, Write, Check (Olhe, Cubra, Escreva, Cheque).

Exemplo da rotina LCWC para ortografar palavras irregulares, tal como descrito no Dyslexia Institute Learning Programme from Dyslexia Action, UK (Programa de Aprendizagem do Instituto de Dislexia da Ação Dislexia, RU):

  • o professor mostra a palavra por vários  segundos, pedindo aos alunos que olhem cuidadosamente;
  • os alunos dizem a palavra;
  • os alunos nomeiam as letras na palavra (soletrando em voz alta)
  • os alunos copiam a palavra;
  • ambos, professor e alunos, escondem a palavra;
  • os alunos repetem a palavra;
  • os alunos ortografam a palavra;
  • os alunos escrevem a palavra novamente;  
  • o professor mostra a palavra novamente  e os alunos checam sua própria
    ortografia.

Os diferentes passos são repetidos até que os alunos possam ortografar a palavra.

Este rotina pode ser praticada como se fosse um jogo tocando um ‘acordeon’ numa folha de papel grande enquanto as crianças copiam a palavra (o quarto passo acima): dobrem-na sobre a palavra ‘chave’ para escondê-la e, então, escrevam-na. Se a resposta for errada, elas devem dobrar a ‘chave’ de volta novamente e repetir o passo. O alvo do jogo é fazer as menores dobras possíveis no acordeon no tempo dado.

No ensino de palavras irregulares, especialistas internacionalmente reconhecidos como  Bevé Hounspelo e Tony Buzan aconselham prosseguir seguindo a rotina e repetindo-a com intervalos progressivamentemais longos.

 

3.3.4  Ditado de sentenças

 

Quando as crianças adquirirem suficiente domínio na escrita de uma só palavra, podem  usá-las  em frases.

Antes de você fazer o ditado, certifique-se de que as crianças com dislexia leram o trecho do ditado antes.

Se possível, você deveria gravar a leitura do trecho. Mais tarde você pode pedir-lhes que anotem as palavras à medida que escutam sua própria voz. Este é um poderoso instrumento para treinar a memória.

Existem também várias rotinas multissensoriais para ditado de sentenças. Hornsby propõe a seguinte sequência, que induz os alunos a ouvir (modalidade auditiva), a falar (modalidade oral-cinestésica), a escrever (modalidade manual-cinestésica), a olhar   (modalidade visual) e a ler.

Rotina multissensorial  para ditado de frases

  • o  professor diz a frase  numa velocidade normal
  • os alunos repetem a frase em voz alta 
  • o  professor repete a frase  com uma pausa curta entre cada palavra, falando muito claramente
  • os alunos escrevem a frase  à medida que a dizem em voz alta 
  • os alunos leem em voz alta exatamente o que eles na verdade escreveram
  • se eles cometeram erros, o  professor lhes pede  que os localizem e os corrijam

As rotinas multissensoriais descritas acima são todas as mais importantes para crianças com dislexia, porque eles põem em jogo a análise fonológica e ajudam a memória. Se você não pode usá-las em classe, veja se o ‘lar’ ou os ‘especialistas’ podem ajudar.

Em adendo, o passo final em todas essas rotinas é o da autocorreção. Seja qual for a rotina que você usar, é essencial para crianças com dislexia que você conceda mais tempo para ler o que eles escreveram, idealmente em voz alta. Isto permitirá a muitas crianças encontrar seus próprios erros.

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ATIVIDADE 21

Encontrar cinco palavras regulares, cinco palavras irregulares e cinco frases curtas. Então, com seu parceiro de curso, pratique as rotinas multissensoriais descritas acima e depois revertam os papéis.

Agora, continue, por favor.

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 3.3.5  Truques de memória (mnemônica)

A mnemônica pode ajudar algumas crianças consideravelmente, mas pode confundir outras. Os alunos reterão a mnemônica melhor se eles próprios a inventarem.

Algumas mnemônicas ajudarão as crianças a lembrar a ortografia de palavras irregulares  comuns. Por exemplo:

Dia de muito, véspera de pouco

Não marcas que o tempo não apague

Eles têm o bem e ninguém os detêm.

 Você pode também agrupar famílias de palavras irregulares em orações:

Eles têm o bem e ninguém os detêm

Eles vêm de Belém e intervêm nos negócios.

E aqui está a história do Chapeuzinho Vermelho que você pode imprimir e dar  aos alunos.

Muitas crianças com dislexia têm problemas específicos com homófonos, i. e,  palavras que têm a mesma pronúncia mas diferentes ortografias e significações.

Para crianças com uma memória auditiva melhor, você pode usar histórias curtas para ajudar a memorizar a ortografia acurada para cada palavra:

<mal/mau> O Lobo Mau agiu mal e engoliu o Chapeuzinho! Ah! Mas esse não é o final da história!

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©Dr. Vincent Goetry e Dyslexia International (Versão Original)

©Dra. Ângela Maria Vieira Pinheiro (Coordenação da tradução e adaptação da VB)