Dislexias Adquiridas


No século XIX, o estudo neurológico sobre a linguagem concentrou-se no estabelecimento de relações entre regiões cerebrais e comportamentos verbais específicos. Uma das contribuições mais importantes dessa visão localizacionista para o estudo da linguagem foi a associação entre desordens da linguagem verbal e lesões em áreas específicas no hemisfério esquerdo. O marco inicial cabe a Broca que, em 1861, ofereceu prova anatômica post mortem de que essas desordens ocorrem como resultado de lesões na zona anterior do hemisfério esquerdo, ficando, por isso, essa zona do cérebro conhecida como “área de Broca”. Coube a Wernicke, em 1875, demonstrar que uma lesão na área temporoparietal do córtex cerebral produzia uma forma de distúrbio afetando a compreensão da linguagem verbal que diferia daquele descrito por Broca. Essa área passou a ser denominada “área de Wernicke”.

Atualmente, admite-se que as principais funções da linguagem verbal são desempenhadas por circuitos neurais acomodados no hemisfério esquerdo, incluindo a área de Broca, a área de Wernicke e outras áreas e feixes de associação do córtex do hemisfério esquerdo, responsáveis pela leitura e produção escrita, especialmente a área frontal terciária, encarregada do planejamento e da orquestração da linguagem verbal.

As desordens de linguagem que ocorrem após lesões cerebrais nas áreas acima mencionadas são conhecidas como afasias. Se houver uma lesão na região occipitotemporal ventral esquerda e/ou nos feixes que a associam às outras áreas da linguagem verbal, ocorrerá a dislexia adquirida, estudada pela primeira vez por Déjèrine e então conhecida como cegueira verbal.

Da mesma forma que as pesquisas mostram existirem vários tipos de afasia de compreensão e de produção, muitos tipos de dislexia têm também sido identificados sendo a leitura letra a letra, a dislexia fonológica, a dislexia superficial e a dislexia profunda as condições mais estudadas.

Fonte

O presente texto é uma revisão e atualização de Pinheiro, A. M. V. (2008). A Leitura e Escrita: uma abordagem cognitiva. 2a. ed. São Paulo: Editora Livro Pleno (Cap. 1, p. 63-65).